O Que é Teofania na Bíblia?

 


Teofania é uma manifestação visível do próprio Deus no Antigo Testamento. A palavra teofania tem origem na combinação de duas palavras gregas, theos, que significa “Deus”, e phainein, que significa “mostrar” ou “manifestar”. Portanto, literalmente teofania significa “manifestação de Deus”.

O Antigo Testamento registra alguns casos de teofania. Todos eles aconteceram em momentos decisivos da história da redenção quando Deus resolveu deixar-se ser visto por alguém com o objetivo de comunicar sua vontade a tal pessoa.

É importante não confundir os registros bíblicos de teofanias com o uso da linguagem antropomórfica no Antigo Testamento. O antropomorfismo é um recurso de linguagem em que o escritor bíblico atribui características     humanas a Deus para tornar mais clara sua mensagem. Mas as teofanias constituem uma manifestação real de Deus.

Características das teofanias na Bíblia

As teofanias bíblicas não foram exatamente iguais umas às outras. Nas teofanias Deus assumiu diferentes formas visíveis para se revelar a algumas pessoas. Há teofanias que se deram através de sonhos e visões; enquanto outras aconteceram bem diante dos olhos físicos dos homens. Aqui podemos destacar algumas importantes características que distinguem os tipos básicos de teofanias registradas na Bíblia.

Em primeiro lugar, algumas teofanias ocorreram em forma simbólica. Isso significa que Deus algumas vezes se manifestou a alguém não em forma humana, mas através de símbolos. Mas isso não quer dizer que tal manifestação da presença de Deus foi menos real que em uma teofania em forma humana. Alguns exemplos de teofanias em forma simbólica são:

  • O forno de fumaça e a tocha de fogo na ocasião em que Deus selou sua aliança com Abraão (Gênesis 15:17).
  • A coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite que guiava e iluminava o povo de Israel no deserto (Êxodo 13:21,22).
  • A vez em que os israelitas viram e ouviram os trovões e os relâmpagos, o som de buzina e o Monte Sinai fumegando com a manifestação da presença de Deus (Êxodo 20:18-20).
  • A nuvem que entrou no Tabernáculo e posteriormente no Templo em Jerusalém (Êxodo 40:34-38; Levítico 16:2; 1 Reis 8:11).

Em segundo lugar, outras teofanias ocorreram em forma humana e tangível. Deus assumiu aparência ou corpo humano em caráter temporário. Sem dúvida dois dos exemplos mais conhecidos são: a ocasião em que o Senhor visitou Abraão como se fosse um viajante (Gênesis 18); a vez em que Jacó lutou com um homem no Vau de Jaboque (Gênesis 32:24).

Dentro dessa categoria de teofania também estão aquelas em que Deus se manifestou através do que os escritores bíblicos chamaram de “Anjo do Senhor” (Juízes 13:21,22). Moisés, por exemplo, viu o Anjo do Senhor no meio de uma sarça ardente, e se tratava o próprio Deus (Êxodo 3:2-22). Mas é verdade que nem sempre a designação “Anjo do Senhor” na Bíblia se refere a uma teofania. Saiba mais sobre quem é o Anjo do Senhor.

Cristofania: Cristo e as teofanias do Antigo Testamento

Os estudiosos da Bíblia ainda destacam que na maioria das teofanias em forma humana, se não em todas elas (principalmente quando se trata do Anjo do Senhor), o que pode ter ocorrido é uma manifestação pré-encarnada de Cristo. Eles observam certas características interessantes em algumas dessas teofanias:

  • O mensageiro que se manifesta a alguém fala como Deus na primeira pessoa do singular.
  • Ele age como Deus e demonstra uma autoridade que só pertence a Ele.
  • Ele é reconhecido como Deus pelas pessoas a quem se manifesta.
  • Ele é capaz de receber adoração.

Contudo, apesar de todas essas particularidades, ainda assim algumas vezes o mensageiro se faz distinto de Jeová. Por exemplo: quando Deus apareceu em forma humana a Josué antes da conquista de Jericó, ele se identificou como sendo o “príncipe do exército do Senhor” (Josué 5:14).

Então como pode alguém falar como Deus, agir como Deus e ao mesmo tempo se distinguir d’Ele? Bons expositores bíblicos têm procurado responder esta pergunta apontando para a doutrina da Trindade. Somente alguém que é Deus pode falar e agir como Ele e ainda assim se distinguir d’Ele, não em essência, pois Ele é um, mas em pessoalidade.

Portanto, provavelmente essas teofanias travam-se do aparecimento do pré-encarnado Filho de Deus. Na teofania presenciada pelos pais de Sansão isto parece claro. O Anjo do Senhor reivindica o mesmo nome que é atribuído a Cristo pelo profeta Isaías (Juízes 13:18-22; cf. Isaías 9:6). Alguns comentaristas chamam essas teofanias de “Cristofania”.


Ainda há teofanias hoje?

Além de as teofanias do Antigo Testamento ter como finalidade tornar a vontade de Deus conhecida em determinado contexto, elas também possuíam um significado muito mais amplo e profundo. Elas apontavam para um propósito redentor e para uma esperança escatológica.

A realidade das teofanias do Antigo Testamento encontra seu cumprimento pleno e final na bênção da vinda do Filho de Deus ao mundo. É possível dizer que cada uma das teofanias em forma humana registradas no Antigo Testamento pré-figurava o milagre da encarnação. O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória (João 1:14). Cristo é a teofania permanente; n’Ele está a consumação da revelação de Deus aos homens; Ele é o Emanuel, o Deus conosco (Mateus 1:23).

O apóstolo João escreve que “ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido” (João 1:18). O apóstolo Paulo diz que Jesus é a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15). O escritor de Hebreus ensina que Cristo é o resplendor da glória de Deus, e a expressa imagem da Sua pessoa (Hebreus 1:3).

Por fim, o próprio Cristo enfaticamente declara: “Quem vê a mim vê o Pai” (João 14:9). Portanto, não há mais qualquer necessidade de que ocorram novas teofanias como aquelas registradas no Antigo Testamento.

Os crentes do Antigo Testamento viveram num período em que eles criam no Salvador prometido que haveria de vir; e tinham pequenos vislumbres do cumprimento dessa promessa através das teofanias. Hoje, vivemos num período em que cremos no Salvador que já veio. Graciosamente desfrutamos de um estágio superior da revelação de Deus na história da redenção. Então podemos enxergar a promessa divina já cumprida na pessoa de Cristo.

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